posted by Doce Venenosa @ 05:31
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Ser PoetaSer poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem sejaRei do Reino de Aquém e de Além Dor!É ter de mil desejos o esplendosE não saber sequer que se deseja!É ter cá dentro um astro que flameja,É ter garras e asas de condor!É ter fome, é ter sede de Infinito!Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…É condensar o mundo num só grito!E é amar-te, assim, perdidamente…É seres alma e sangue e vida em mimE dizê-lo cantando a toda a gente!(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)
Saudades e Amarguras(2) Saudades e amargurasTenho eu todos os dias,Não podem pois adejarEm meus versos, alegrias. Saudades e amargurasTenho eu todas as horas,Quem noites só conheceu,Não pode cantar auroras. (Florbela Espanca, «Trocando Olhares», in «Poesia Completa», p. 29)
Maria das QuimerasMaria das Quimeras me chamouAlguém… Pelos castelos que eu erguiPlas flores de oiro e azul que a sol teciNuma tela de sonho que estalou Maria das Quimeras me ficou;Com elas na minh'alma adormeci.Mas, quando despertei, nem uma viQue da minh'alma, Alguém, tudo levou! Maria das Quimeras, que fim desteÀs flores de oiro e azul que a sol bordaste,Aos sonhos tresloucados que fizeste? Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?…Aonde estão os beijos que sonhaste,Maria das Quimeras, sem quimeras?… (Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)
Princesa Desalento Minh'alma é a Princesa Desalento,Como um Poeta lhe chamou, um dia.É revoltada, trágica, sombria,Como galopes infernais de vento! É frágil como o sonho dum momento,Soturna como preces d'agonia,Vive do riso duma boca fria!Minh'alma é a Princesa Desalento… Altas horas da noite ela vagueia…E ao luar suavíssimo, que anseia,Põe-se a falar de tanta coisa morta! O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,E vai traçar, fantástico e gelado,A sombra duma cruz à tua porta… (Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)Um bom dia para ti Amiguinho :o)
Cada vez melhor, este ninho...Adoro mesmo Florbela Espanca e foi uma agradável surpresa vê-la aqui incluída...Outros links sobre a autora:http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/http://omni.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/florbela.html
Esta é uma das minhas preferidas, aquela poesia com que me identifico mais e por isso não resisto em colocá-la aqui:Lágrimas ocultasSe me ponho a cismar em outras erasEm que ri e cantei, em que era querida,Parece-me que foi noutras esferas,Parece-me que foi numa outra vida...E a minha triste boca dolorida,Que dantes tinha o rir das primaveras,Esbate as linhas graves e severasE cai num abandono de esquecida!E fico, pensativa, olhando o vago...Toma a brandura plácida dum lagoO meu rosto de monja de marfim...E as lágrimas que choro, branca e calma,Ninguém as vê brotar dentro da alma!Ninguém as vê cair dentro de mim! Florbela Espanca
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Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)
Saudades e Amarguras
(2)
Saudades e amarguras
Tenho eu todos os dias,
Não podem pois adejar
Em meus versos, alegrias.
Saudades e amarguras
Tenho eu todas as horas,
Quem noites só conheceu,
Não pode cantar auroras.
(Florbela Espanca, «Trocando Olhares», in «Poesia Completa», p. 29)
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém… Pelos castelos que eu ergui
Plas flores de oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh'alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores de oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?…
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?…
(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)
Princesa Desalento
Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É revoltada, trágica, sombria,
Como galopes infernais de vento!
É frágil como o sonho dum momento,
Soturna como preces d'agonia,
Vive do riso duma boca fria!
Minh'alma é a Princesa Desalento…
Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta…
(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)
Um bom dia para ti Amiguinho :o)
Cada vez melhor, este ninho...
Adoro mesmo Florbela Espanca e foi uma agradável surpresa vê-la aqui incluída...
Outros links sobre a autora:
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/
http://omni.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/florbela.html
Esta é uma das minhas preferidas, aquela poesia com que me identifico mais e por isso não resisto em colocá-la aqui:
Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
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