Ninho

2004/09/03

Florbela Espanca 1894 /1930



 Posted by Hello

7 Comments:

At 5:46 da manhã, Blogger Doce Venenosa said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 5:48 da manhã, Blogger Doce Venenosa said...

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendos

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…

É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente…

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

 
At 5:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Saudades e Amarguras

(2)



Saudades e amarguras

Tenho eu todos os dias,

Não podem pois adejar

Em meus versos, alegrias.



Saudades e amarguras

Tenho eu todas as horas,

Quem noites só conheceu,

Não pode cantar auroras.



(Florbela Espanca, «Trocando Olhares», in «Poesia Completa», p. 29)

 
At 5:51 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Maria das Quimeras

Maria das Quimeras me chamou

Alguém… Pelos castelos que eu ergui

Plas flores de oiro e azul que a sol teci

Numa tela de sonho que estalou



Maria das Quimeras me ficou;

Com elas na minh'alma adormeci.

Mas, quando despertei, nem uma vi

Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!



Maria das Quimeras, que fim deste

Às flores de oiro e azul que a sol bordaste,

Aos sonhos tresloucados que fizeste?



Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?…

Aonde estão os beijos que sonhaste,

Maria das Quimeras, sem quimeras?…



(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)

 
At 5:53 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Princesa Desalento



Minh'alma é a Princesa Desalento,

Como um Poeta lhe chamou, um dia.

É revoltada, trágica, sombria,

Como galopes infernais de vento!



É frágil como o sonho dum momento,

Soturna como preces d'agonia,

Vive do riso duma boca fria!

Minh'alma é a Princesa Desalento…



Altas horas da noite ela vagueia…

E ao luar suavíssimo, que anseia,

Põe-se a falar de tanta coisa morta!



O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,

E vai traçar, fantástico e gelado,

A sombra duma cruz à tua porta…



(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)

Um bom dia para ti Amiguinho :o)

 
At 8:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Cada vez melhor, este ninho...
Adoro mesmo Florbela Espanca e foi uma agradável surpresa vê-la aqui incluída...

Outros links sobre a autora:
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/
http://omni.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/florbela.html

 
At 8:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Esta é uma das minhas preferidas, aquela poesia com que me identifico mais e por isso não resisto em colocá-la aqui:
Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

 

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