Ninho

2004/09/24

Leituras (Link)

Alves Redol

Um homem!!!

Uma Obra!!!

“Servindo sobretudo como diagnóstico ou "documentário humano" e não pretendendo ser, segundo o próprio Autor, uma "obra de arte", Gaibéus descreve a vida dos trabalhadores sazonais que, vindos das Beiras e do Alto Ribatejo, migravam para a região das lezírias, onde ajudavam à colheita do arroz, dando-nos uma imagem da sua luta e do seu sofrimento.”

Um povo resignado que luta afincadamente durante o tempo quente, antes da chegada do Inverno, em condições extremas para fazer render os poucos cobres que lhes pagam por tamanha dureza. Por um lado o trabalho árduo de sol a sol, as doenças (malária), a fadiga e a teimosia em cada vez se fazer o trabalho mais rápido para mais rendimento obter, a sede, a fome, a pobreza extrema. Por outro lado, o modo como preenchiam as escassas horas de lazer, os sonhos de uma vida melhor, os projectos sem logro, o vinho para alegrar os espíritos.
As mulheres ainda sofrem de outro tipo de exploração, sendo sujeitas aos caprichos do senhor das terras que as escolhe para os seus prazeres carnais.

E o futuro espelhado numa velha que acaba por enlouquecer, fraca e doente, mas com o mesmo anseio de pegar na foice para acabar o trabalho, iludindo-se, febrilmente delirante, no gabar-se de ainda ser o exemplo para os outros de como é uma verdadeira mondadeira.


* * * * * *

Estando nós já um pouco “longe”, em termos temporais, da feitura da obra de Alves Redol aqui deixo uma sugestão para a sua divulgação, na medida em que da sua leitura se conseguirá uma maior percepção da realidade sócio-política de uma época.

Boas Leituras

2 Comments:

At 2:29 da manhã, Blogger Doce Venenosa said...

Dentre a obra de Alves Redol destaca-se:

Romances

Gaibéus - 1940;
Marés -1941;
Avieiros-1942;
Fanga - 1943;
Anúncio -1945;
Porto Manso -1945;
horizonte Cerrado - 1949;
Os Homens e as Sombras - 1951;
Vindima de Sangue - 1953;
Olhos de Água - 1954;
A Barca dos Sete Lemes - 1958;
Uma Fenda na Muralha -1959;
Barranco de Cegos -1962;
O Muro Branco - 1966.

Teatro
Maria Emília - 1945;
Forja - 1948;
O Destino Morreu de Repente - 1967

Contos
Nasci com passaporte de turista - 1940;
Espólio - 1943;
Histórias Afluentes - 1963

Tridentadinhas Amiguinho e bom fim de semana :o))

 
At 2:33 da manhã, Blogger Doce Venenosa said...

ALVES REDOL



Considerado o primeiro neo-realista português, António Alves Redol veio ao mundo em Vila Franca de Xira, em 29 de Dezembro de 1911, oriundo de uma família muito modesta, condição social que lhe não permitiu prosseguir os estudos, como tanto desejava. Foi obrigado a trabalhar muito jovem, de início como marçano numa mercearia e, seguidamente, como empregado de escritório, vendedor de pneus, encarregado de publicidade e gerente de tipografia. Quando tinha 16 anos, parte para Luanda em busca de melhores condições de vida, aí sobrevivendo como professor de taquigrafia, explicador, empregado dos Serviços da Fazenda e, de novo, como empregado de escritório. Com 19 anos regressou a Vila Franca de Xira, iniciando a sua participação na imprensa. Recomeçou os estudos e completou o curso elementar de comércio.
Influenciado pelo realismo brasileiro, sobretudo pela obra de Jorge Amado, em 1939 escreve o seu primeiro romance "Gaibéus", em que apresenta os problemas sociais e económicos, e mesmo morais, vividos nas regiões transtaganas, ou seja, o dia-a-dia do rancho que procurava a lezíria na época das ceifas - obra que, oficialmente, marca o aparecimento do neo-realismo português, movimento que ajudou a fundar.
O regime de Salazar nunca lhe facilitou muito a vida como escritor, atendendo a que era um membro muito activo do MUD - Movimento de Unidade Democrática, cuja primeira Comissão central integrou, participando em muitas conferências como orador brilhante. Publicou um número considerável de livros: novelas, contos, romances, teatro, livros para crianças, estudos etnográficos.
Nos seus livros as enormes diferenças sociais e os abusos das classes dominantes, sobretudo as vicissitudes dos pobres e o abuso e a cupidez dos ricos. Também nos livros iniciais abunda a reportagem e até o espírito panfletário. Escrevendo, dentro desta técnica recente, ano a ano, foi apresentando o drama social dos homens do Ribatejo, do Alentejo e do Alto Douro.

Enquanto que em "Gaibéus" fala acerca dos ceifeiros, no romance "Avieiros" apresenta os pobres pescadores na margem do Tejo, no Ribatejo, rio que, muitas vezes, lhes fornece o peixe, mas ainda lhes arrasta os poucos e míseros bens que possuem. Na "Fanga" (que representa os alugadores de uma pequena terra), descreve a aflição dos fagueiros, terrenos que cultivam e regam com o amargo suor do rosto e donde não têm compensações. Em " Uma Fenda na Muralha" encaminha os leitores para a Nazaré, fazendo-os viver os dramas dos homens do mar, esforçados e mal remunerados pescadores. Nos três romances do ciclo "Portwine" ergue um monumento à época dos cultivadores do vinho do Porto, que aos vinhateiros custam tragédias e heroísmo.
A partir de "Olhos de Água" e "Barca dos Sete Lemes", melhora a sua arte neo-realista. Debruça-se, mais atenciosamente, sobre as contradições da sociedade provenientes de fundas raízes históricas, evidencia os dramas originados pelo progresso industrial e analisa as condições de vida do operário e do camponês.
O seu livro "Barrancos de Cegos" é considerado, pela maioria dos historiadores, como o romance mais bem concebido.
No hospital de Santa Maria, em Lisboa, em 29 de Novembro de 1969, teve o dia derradeiro.

:o))

 

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